No Simpósio "O Direito de Morrer", o Dr. Luiz Gustavo Torres, da equipe do CENTRON, falou sobre quimioterapia e morte. Leia abaixo um trecho de sua palestra.

 

Discussões sobre não prosseguir com o tratamento quimioterápico são difíceis para os médicos e, principalmente, para os pacientes. Existem duas razões fundamentais para se administrar quimioterapia paliativa em pacientes com câncer metastático:

1- Aumentar o tempo de vida do paciente;

2- Melhorar a qualidade de vida pelo controle dos sintomas da doença neoplásica em progressão.

No entanto, terapias empregadas poderão impactar negativamente na qualidade de vida. Alem dos efeitos tóxicos habituais devem ser considerados outros aspectos negativos fundamentais mas pouco discutidos, como tempo, muitas vezes os poucos meses ou semanas restantes de vida, e incoveniência, pela realização de exames, sessões de tratamento, internações e procedimentos.

Médicos e pacientes fazem estimativas e vivem expectativas irreais no que diz respeito ao tempo restante de vida. Esse tempo é superestimado na maioria das vezes, o que prejudica o julgamento sobre as decisões terapêuticas e limita a possibilidade de discussão honesta sobre o prognóstico e planejamento conjunto (médico, paciente, família) sobre os cuidados a serem implementados no final da vida.

Evidências recentes revelam, para pacientes com falha terapêutica inicial e tempo de vida estimado menor que 6 meses, o uso da quimioterapia está relacionado a pior qualidade de vida e maior risco de cuidados médicos agressivos no final da vida como ressuscitação cardiopulmonar, ventilação mecânica e morte em unidade de terapia intensiva. A Dra Holly Prigerson, da Universidade de Harvard, e seus colegas publicaram, em julho de 2015 em importante periódico medico, dados do acompanhamento de um grupo de mais de 300 pacientes demonstrando a associação do tratamento quimioterápico nos últimos meses de vida com piora da qualidade de vida.   

A quimioterapia não é um tratamento fútil, mesmo para pacientes nos últimos meses ou semanas de vida, todavia os pacientes devem ter a oportunidade de fazer escolhas sobre seu plano de cuidado com expectativas reais em relação a terapia, seus valores individuais e objetivos.